segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Na terra dos sonhos,parte 3

A minha aventura do Burning Man não foi uma aventura solitária
Foi uma aventura de companheirismo e amizade


O acampamento Portuga era constituido por mim,
pelo Ric (grande companheiro de aventuras passadas)
pelo Chico (grande companheiro de aventuras futuras)
e pela Joana, (a grande amiga, veterana destas andanças que alinhou sempre em tudo e que nos aturou corajosamente)

Sendo tipicos portugas chegámos já bem tarde ao recinto, o Burning Man começou na segunda mas nós só fomos na quinta á noite devido aos compromissos laborais

A viagem de São Francisco até Black Rock City correu sempre sem sobressaltos, 2 carros carregados de material de campismo e bicicletas,rasgando o alcatrão americano a velocidades que induzem sono no europeu comum,torna-se duro fazer 550 kms a 11o á hora
A saida de São Francisco foi demorada devido ao transito normal de um final de dia,de resto foi sempre a andar parando apenas para o habitual refill ou para comer qualquer coisa,apesar de receosos nunca tivemos quaisquer contratempos com a força policial

A chegada foi um pouco confusa pois não sabiamos bem o que esperar.Nos checkpoints de entrada fomos recebidos por uma senhora já com uma certa idade que nos perguntou se era a primeira vez. Resposta afirmativa, no caso dos rapazes, como tal fomos convidados a participar num pequeno ritual de iniciação. Deitar-nos no chão do deserto e fazer um anjo de pó,relutantes e ainda com medo de nos sujarmos acedemos ao pedido.



A partir do momento em que estava no chão,em que o sujar-me já era inevitável, comecei a compreender,comecei a sair da preocupação, quando me levantei, a senhora deu-me um grande abraço e disse:
Welcome home



Eramos agora parte daquilo e riamos que nem uns putos maravilhados,estávamos em casa

Foi nos dado mapas do recinto,guias de actividade e mais material de leitura diverso

Encetámos a procura de um sitio para acampar, procurávamos o acampamento de uns amigos da Joana que tinham ido mais cedo.


Tarefa nada façil. Escuro,a menos de 10km\h, fascinados com a quantidade de luzes estranhas,pessoas cheias de glowsticks,acampamentos artisticamente complexos, e principalmente pela nossa ansia de fazer rapidamente parte daquilo tudo.


Claro que nos perdemos logo e decidimos parar o carro,biclas para fora,cerveja para dentro e o acampamento que se lixe,depois amanhã logo nos mudamos.
Era um bom plano,mas eventualmente acabámos por ficar o resto dos dias acampados perto de onde parámos o carro, os amigos da Joana ainda os encontrámos,vontade de mudarmos tudo para lá é que não lol




A nossa casa na Rua das sete horas com a F


Para quem está habituado a acampar sabe que a partir do momento em que o sol incide directo sobre a tenda, acaba o sono descansado, o calor e a luz acabam com o sonho de dormir até tarde.
No Burning Man esse fenomeno é amplificado pela ausencia de qualquer sombra,pela cor do solo e pelo barulho de vizinhos com geradores. Custa a primeira vez,depois acaba por ser na boa, dormir dorme-se em casa\escola\trabalho

Depois de um nutritivo pequeno almoço de barras de cereais,coca-cola e sandes de atum começavam os nossos preparativos para uma dura jornada de Burning Man, Protector solar espalhado,chapeus na cabeça,body paint desenhado,bisnagas carregadas e siga




Estipulávamos um plano,o que ver,onde ir,o que fazer e nunca o cumpriamos.

Problemas nas biclas,desorientação,tempestades de pó ou simplesmente porque algo nos chamava a atenção e esqueciamos o plano.

Mas tambem,planos são para turistas e no Burning Man não há turistas

É impossivel ver tudo o que há para ver e fazer tudo o que há para fazer,portanto pessoal que na Expo98 tentou carimbar o passporte em todos os pavilhões esqueçam lá isso,o deserto não é muito bom sitio para corridas,sabe bem melhor ir ao sabor do imprevisto

Dito isto,visitámos as capelinhas mais importantes ah ah

Na fila para o pavilhão de Angola


A vista para o oceanário



O oceanário

Eusébio e Amália


Pavilhão da França,danças folclóricas tradicionais


Delegação da covilhã,queijo da serra incluido

Percorriamos quilometros todos os dias,a paisagem ás vezes engana,o que parece perto a maioria das vezes não é tão perto assim.Debaixo do calor parávamos constantemente para beber água,é uma obrigação beber água constantemente, a partir do momento em que se tem sede é porque já começámos a desidratar e no deserto pode significar morte,a sério.

Com o calor temos menos fome,no entanto nunca deixámos que isso fosse um problema, o nosso grelhador maravilha fez fumo todos os dias e graças á oportunidade de ter uma geleira com gelo seco(grande joana) tivemos carne congelada até ao último dia

As condições atmosfericas determinam muitas das nossas movimentações e nada é mais dificil de enfrentar que um whiteout,uma tempestade de pó e areia que faz com que não se veja nada á frente do nariz,que por sua vez tem dificuldade em respirar


Resultado

Chegar á tenda e ver que apesar de ser á prova de água não é à prova de pó tem piada
Mascara de neve e lenços é a única alternativa para enfrentar o pó,protege mesmo e ficamos com um aspecto apocaliptico de bonus Não é tão mau como parece,não é terra,é pó altamente alcalino,não cheira mal,não incomoda,para alem de um nariz um pouco entupido e de ficarmos com uma aparência silver

Noite

Black Rock City à noite é bastante diferente, a ausência de luz faz com que toda a gente se encha de glowsticks e luzinhas, todos os art cars e restante arte ligam neons, o que faz com que se torne um mundo fluorescente




A música à noite está em todo o lado e é festa garantida,com mais ou menos pó






Burning The Man

A noite de sabado, a noite da queima,acaba por ser um anticlimax,porque se por um lado é a razão primordial de tudo isto existir,significa tambem o seu fim.É um pouco como o ano novo,toda a gente curte muito mais na vespera do que propriamente na noite da passagem do ano.
É no entanto uma ocasião memoravel, os bombeiros e organização montam um perimetro de segurança em volta do Man e todos os habitantes de Black Rock se dispõem á sua volta,a antecipação é grande,as pessoas ficam electricas e quando começa o fogo de artificio ouve-se uma euforia colectiva.

A queima inicia-se com uma explosão de fogo e depois tudo decorre lentamente,até que a torre e o Man desabem em chamas. As reacções são diferentes para todos, há quem chore,há quem grite para o queimarem,há quem comente que as queimas anteriores foram melhores,tipo treinador de bancada,há quem faça amor no chão iluminado pela fogueira gigante e há quem simplesmente observe tudo,como eu que me perdi do resto da malta minutos antes de tudo começar.Foi um momento estranho para mim,se por um lado ninguem quer fazer a "passagem do ano" sozinho,por outro senti as coisas por mim,ainda não consigo perceber o que senti mas gostei muito daquele momento.

O exodo

No dia seguinte á queima começa o exodo.

Apesar de ainda haver muito a fazer,o templo só é queimado no domingo por exemplo.

Andar por Black Rock quando o exodo já começou é estranho,sentir que tudo o que era vida e entusiasmo está a desaparecer,o fantasma da vida real espreita-nos já por cima do ombro.

Para nós o Domingo foi um dia calmo,passeámos calmamente até á Torre,fomos até à fronteira de Black Rock City,dancámos um pouco num chillout,o Chico falou com Deus

o que restou do Man

e para terminar uma bezana colectiva que culminou com um Blackout, o meu :)
No dia seguinte,foi a nossa vez de fazer o exodo, desmontar tudo e olhar para o vazio progressivo.

Acordei zenissimo,aqueles dias trouxeram-me uma paz imensa e olhar agora para o deserto enquanto me ia embora não foi triste foi sim quase revelatório,afinal é possivel,afinal existe mesmo,a place called home
Na fila para entrar no mundo real ofereceram-nos os melhores hotdogs que já comi,acabados de fazer, e para finalizar ofereceram-nos uma caixinha com cinzas do ManDespedimo-nos do deserto mas ainda não voltámos do Burning Man,fisicamente existe uma semana por ano,de resto fica connosco o ano inteiro.

6 comentários:

goncalojfsilva disse...

Então não foram para o deserto? No deserto não há neve... óculos da neve ou do deserto?

goncalojfsilva disse...

Hum... com que então queijo da serra!!! Se fosse daquele que cheira mal de Castelo Branco podia ser pior! Já para não falar de Roquefort...

Unknown disse...

Covilha nao eh Castelo Branco...Thank God!!

Unknown disse...

Dany: snif snif...Sabia que na devia ter lido isto no trabalho...

Unknown disse...

A Joana aturou-vos corajosamente!? Exageraaaaaado!!

littleana disse...

Quase chorei a ler os teus posts sobre o nosso HOME!!! Ficei com saudades e também com muita pena de nao vos ter conhecido antes da minha "segunda vez" em 2008!!! Dusty hugs. littleAna