Não podia partir dos Estados Unidos sem ir a um dos sitios mais emblemáticos deste continente,Las Vegas, a capital do plastic fantastic,do excesso e do prazer
Muito já foi dito sobre Vegas,a sua história a conotação com o crime organizado,os hotéis maiores que a vida,as luzes,as limousines,as mulheres,álcool, jogo e Elvis,
Sobre a história não me vou debruçar muito porque também nao sei muito,apenas que Las Vegas é tipo Brasilia,imaginem um deserto imenso em que alguém pensou porque não construir aqui uma cidade.
Las Vegas teve o seu boom inicial associado a dois factores,o primeiro foi a sua proximidade com as áreas de testes nucleares nos desertos do nevada,é estranho pensar que nos anos 50 se promovia o turismo nuclear,pessoas vinham a esta zona só para poder assistir a explosões e os seus cogumelos,como se de mais um fenómeno natural ou espectáculo se tratasse
O segundo foi a visão de elementos do crime organizado americano,nevada é um estado com leis bem mais permissivas no que toca ao jogo e álcool, Las Vegas era um deserto esquecido,quase terra de ninguém,porque não criar aqui a mina de ouro longe das complicações e imposições das grandes cidades,quando nada existe quase tudo é possível
Estive em Las Vegas 3 noites e 3 dias,não foi tempo para descobrir qualquer vestígio da máfia,muito menos vi cogumelos nucleares mas sem dúvida que já deu para sentir o que é este sitio e quão distinto é da nossa realidade.
Desde pequenos que temos Las Vegas no nosso imaginário colectivo, filmes e tv nunca nos deixam esquece-la e semeiam o nosso desejo por ela. Sabemos que aquilo tudo é ridículo e que é coisa de americano,que é o excesso,que se enterram fortunas e que estamos bem melhores sentados a pensar no benfica e no euromilhões, no entanto o desejo não desaparece, sonhamos com aquela vida que nao é nossa,com aquela irrealidade de personagem de jet set, James Bond,uma loura ao lado e gorjetas a voar como sinal da nossa grandeza
Nós pensamos assim,os americanos são obcecados com isso
É cómico apercebermos-nos do efeito Vegas no americano comum, mencionar a palavra e a nossa intenção de irmos,provoca uma explosão de excitação, ouve-se urros de Vegas Uhuh,rapidamente saltam histórias de como aquilo é brutal e de como facilmente gastam 5000 dollares num fim de semana,invariavelmente fica-se com a ideia de que para eles existem duas férias de sonho, Hawaii em Lua de Mel e Las Vegas
Depois de lá chegar entendi porquê
Porque em Vegas os americanos podem ser crianças e adultos ao mesmo tempo.Podem ser crianças porque todos os caprichos podem ser correspondidos,todos os excessos permitidos sem moral castrante ou sentimento de culpa, a máxima what happens in vegas stays in vegas,apesar de comica tem um efeito realmente desculpabilizante e quando chegar a semana de trabalho a postura certinha voltou e nada se passou
Podem ser adultos porque durante o tempo que lá estão podem exercer o seu poder de bom senso,podem ser um bocadinho mais europeus.Aqui podem escolher beber na rua enquanto conversam,fumar um cigarro quando lhes apetece, podem jantar sem ser à hora do lanche,jogar até testar o seu limite e no geral serem um bocadinho mais livres.
Para ser sincero Las Vegas nada mais é do que uma grande avenida,a Las Vegas Blvd e denominada por The Strip.Ao longo da avenida vemos os maiores hotéis,a maior torre,os maiores neons,os maiores casinos,as maiores fontes,os maiores efeitos de luzes e som e as maiores replicas dos maiores monumentos do mundo que por sua vez se transformam em monumentos por mérito próprio,se é que isso faz sentido.
Las Vegas nada mais é que gastar dinheiro em quantidades que para nós parecem parvas,mas que passado um tempo parecem normais,é visitar os hoteis todos e comentar sobre os favoritos,é olhar para a extravagância dos outros e pensar que para a próxima a nossa vai ser ainda maior,é poder estar sempre a beber mesmo quando a bebida é uma lata de budweiser trazida do 7eleven para dentro de um hotel 5 estrelas.
Mas acima de tudo Las Vegas é mais do que a soma das partes,não se consegue explicar muito bem o seu fascinio,é talvez por ser fantasia e toda a gente gosta de sonhar
A viagem começou logo bem,nada melhor do que ir atrasado para o check in,4 tugas a correr que nem desalmados do comboio até à porta de embarque,espírito no máximo e as gargalhadas sempre presentes.À nossa espera já estava o resto da comitiva,éramos finalmente os 9 magníficos a caminho de Las Vegas,uma verdadeira equipa de 9 gajos prontos para um fim de semana de gajos, em Vegas,lol
A viagem correu sem incidentes tirando o barulho tipico de uma visita de estudo do 10ºano a Óbidos que ainda se intensificou mais quando uma das passageiras ainda com o avião em terra já estava de balde na mão pronta a vomitar,o que é sempre bom dentro de um espaço confinado de um avião low cost.
Toda a gente ficou a pensar que iamos para o casamento de um amigo e ninguém se importou com a nossa algazarra,ao fim ao cabo mais de metade do avião ia estar bêbado mal chegasse ao hotel,nós éramos apenas a festa que começou mais cedo
Do ar dá para ver perfeitamente que Vegas é uma cidade no meio do deserto,fiquei bastante surpreso com a sua extensão, aparentemente moradias para albergar toda a gente que trabalha na industria de jogo ocupam muito espaço
Mal aterrei fui o primeiro a colocar um dollar numa slot do aeroporto,ganhei 50 centimos e resgatei logo os ganhos, gastei logo ali a minha sorte de principiante mas pelo menos dei o mote
Como tugas que somos,fomos do aeroporto para o hotel, de autocarro,poupar poupar
No autocarro vê-se que nesta sociedade os transportes públicos existem apenas para os pobres e os portugueses forretas,mas pronto cumprem a sua missão apesar de que com uma organização estupida. Aviso desde já que o pior cancro de Vegas se chama Deuce e é o autocarro que percorre a Strip de uma ponta a outra, é lento, o sistema de bilhetes é uma bosta e o condutor é um chato do caraças, façam um favor a voces mesmos, em Vegas ou tem dinheiro para andar de táxi ou não vão.
chegados ao hotel foi altura de conhecer a maravilha que é o Circus Circus,um mastodonte com a temática do circo, em Vegas tudo tem a ver com a temática.
Não faço ideia de quem dos 9 magníficos escolheu o hotel e não interessa,foi o mais barato e consequentemente o pior de todos os hotéis da Strip, não que os quartos fossem maus mas é um hotel cheio de familias e crianças a correr,mexicanos a jogar slots,gordos a correr para o buffet,casino de luz dormediça e tectos baixos, alcatifa esbatida e uma constante sensação que tudo já tinha passado um pouco do prazo. É barato,dorme-se bem,até há uma máquina de gelo no corredor para os vodkas no quarto, mas não é glamour,não é estilo, não é beautiful people,em suma não é muito Vegas da fantasia,mas sim Vegas da segunda divisão
Era perfeito para nós, com a missão de fazer Vegas dentro de um budget
No primeiro dia fomos ver Fremont, que é a parte histórica de Vegas, os primeiros casinos
Fremont apesar de estar longe da glória entretanto roubada pelos mega hoteis da Strip ainda consegue ser bastante interessante, uma rua tipo rua augusta com casinos dos dois lados e com uma cobertura gigante unindo os telhados,cobertura essa que de noite se ilumina e providencia um espectáculo de luz e som memorável,quem sabe uma boa ideia para combater a desertificação da baixa de Lisboa à noite
Fomos a um dos casinos mais clássicos de Fremont, o Golden Nugget.
O Golden Nugget tem no seu interior uma piscina com escorrega que passa através de um aquário de tubarões, o tubo do escorrega é transparente logo escorregamos no meio de tubarões o que é brutal
Para 9 gajos cheios de calor,a piscina era sem dúvida o objectivo, o único problema é que era de uso exclusivo dos hospedes ou de acesso mediante o pagamento de 20 dollares,ou seja para nós estava criado um desafio
5 conseguiram entrar aproveitando um momento de distracção do segurança, os 4 restantes,eu incluído,penaram um pouco vendo os outros do outro lado do vidro,esperámos e esperámos e eventualmente acabámos todos por conseguir entrar, a minha desculpa foi que ia ter com o meu irmão eheh
Foi uma tarde bem passada,sempre a rir deitados ao sol e a nadar ao lado dos tubarões,o sentimento de ter dado a volta ao sistema tambem contribuiu para a boa disposição de todos
Quando o sol de pôs vimos o espectáculo da cobertura de Fremont Street e bazámos para o hotel, tomar banho e jantar, a noite de Vegas estava à nossa espera
Jantámos num dos restaurantes do hotel, rib eye steak all you can eat, ora bem o que fazer quando há uma refeição de bife publicitada como tudo o que conseguires comer?
Subverter o sistema e metade pedir uma sopa e a outra metade a refeição e partilhar tudo, os tugas e a sua classe J
Claro que deu um bocado barraca mas conseguimos todos comer,no final ficou quase ao mesmo preço do que se cada um tivesse comido uma refeição,mas pronto é uma questão de principio e as gargalhadas não tem preço
Não tínhamos grande plano para a noite,fomos andando para a Strip e parando nos hoteis para ver e jogar um pouco, e acabámos por decidir ir ao Pure, a disco do Caesar Palace.Na fila apercebemo-nos que eu e o Fred irmos de ténis não foi a melhor opção,o pessoal entrou e eu e o Marcos que ficou com os tenis do Fred,ficámos de fora,tínhamos um plano
O plano era simples,eles tinham que mandar dois pares de sapatos lá para fora, primeiro ainda se pensou em simplesmente manda-los pela varanda,mas lá chegar revelou-se impossível,eram zonas vip bem vigiadas,então o plano b foi posto em prática, um dos que lá estava dentro ficava descalço enquanto outro vinha cá fora com os sapatos escondidos na cintura e assim foi, a risada e o disparate de tudo foi brutal,mas na realidade acabámos todos lá dentro e não pagámos para entrar
A disco era muito louca,com varias areas com som distinto,acabámos por ficar no ultimo andar,um terraço ao ar livre com o melhor som da disco, por curiosidade uma bebida custa á volta de 15 dolares
Fomos embora já bem tarde com os pés a doer,dancei a noite toda com uns sapatos que não eram meus lol, desesperámos á espera do Deuce(que bosta) e fomos a pé até ao hotel,acabando assim um dia espectacular
No dia seguinte a receita foi semelhante,durante o dia fomos até à piscina do Hard Rock Café Hotel, as suas Pool Parties aos domingos são famosas,
O Hard Rock foi o hotel que mais curti em Las Vegas,além de estar tudo decorado com preciosidades do mundo da música,entre elas a folha de caderno onde os Sublime escreveram a letra da musica Badfish, o ambiente era excelente, a area de jogo muito bacana, as empregadas lindíssimas e a piscina fenomenal,com areia a simular praia.É sem dúvida o hotel com o espirito mais jovem de todos,já prometi a mim mesmo que só volto a Vegas se tiver dinheiro para lá ficar,o hotel onde se fica contribui em muito para a experiência total
Fomos ao Stratosphere,uma torre incrível de 350 metros de altura, a vista de Las Vegas é fenomenal e a adrenalina das 3 rides no topo é de borrar a cueca ahah
De noite fomos ao The Bank a disco do Bellagio, desta vez já sem o stress dos sapatos,comprei uns de última hora.
Lá dentro o ambiente era sem dúvida o que eu imaginava de Vegas,surpreendeu-me bem mais do que o Pure,não pela decoração mas pelo total,mulheres lindas.
Para nossa sorte era o dia da competição de Pole Dancing, dança de varão tão conhecida dos clubes de strip.
Já antes tinha assistido a algumas demonstrações mas nunca desta maneira, isto podia ser um desporto por mérito próprio,com júris e manobras tal como a patinagem no gelo. Em competição perde grande parte da carga erótica e fascina pela destreza e capacidade fisica das concorrentes que fazem cenas incríveis,apesar de não ter ganho a minha atleta favorita gostei de ver a prestação de todas.
Ultimo dia em Vegas foi completamente distinto,4 de nós alugámos um carro e fomos até ao Grand Canyon.
Procurámos o Grand Canyon dos turistas,acabámos por ir ter ao nosso Grand Canyon depois de atravessar uma reserva índia, foi um destino acidental mas acabou por ser muito melhor assim.
A primeira coisa que me impressionou foi o silêncio, um silencio quase total, que juntamente com a dimensão do canyon me fez sentir pequeno e humilde,a única vontade que tive foi mesmo sentar-me a tentar absorver o cenário magnifico que os meus olhos abraçavam.
Penso que todos nós ficámos emocionados com aquele espectáculo natural, e depois de muitas fotos e de esperar pelo por do sol,voltámos para Las Vegas com uma grande sensação de bem estar,que poderia ter sido interrompida quando quase atropelámos um Cougar, um leão da montanha, um grande felino parado numa estrada de alcatrão,no meio de uma reserva índia numa planície sem fim no continente americano.
Nunca imaginei em ver um animal daqueles,mas foi como que o corolário perfeito da nossa viagem ao Grand Canyon,um sitio único.
Voltámos a Las Vegas já de noite e não tínhamos quarto pois o nosso voo era ás 6 da manhã,decidimos que não íamos dormir,sempre se poupa no hotel e sempre tinhamos o carro alugado
A ver a Strip do céu,despedi-me de Vegas, não sei se algum dia vou voltar mas fiquei feliz por ter vindo, vi duas realidades tão marcantes como distintas, uma construída pelo homem e representativa do expoente máximo da nossa loucura e outra moldada pela natureza ao longo de biliões de anos e representativa do expoente máximo da sua magnitude e beleza
Fechando os meu olhos observei os meus companheiros que já dormiam o sono de 3 dias de Vegas. O avião sacode-me até ao sono,suspiro em paz, grandes gargalhadas,grandes momentos...
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