Perseguindo o Sol

E comecei assim

O eskilo foi-me levar ao aeroporto dia 29 de Julho cedinho, tipo 8.

O aeroporto estava o caos clássico de um final de Julho, familias portuguesas a caminho do brasil e punta cana,grupos gigantes de japoneses de volta ao japão depois de Portugal os ter posto de olhos em bico,voos para Africa com o colorido habitual,caixas e caixotes e excesso de bagagem,sempre com a sensação que tanto os passageiros como o pessoal da companhia aerea estavam perdidos.

Check in feito sem problemas,encontrei-me sentado num avião da US Airways,num lugar do meio.
Do meu lado esquerdo tinha um tipo com uns 40 anos que vinha com uma grande comitiva portuguesa de uma arte marcial qualquer,todos equipados de fato treino e todos piadéticos como só um grupo de portugueses em viagem pode ser.

Do meu lado direito tinha uma miuda betinha entre os 16,18 anos, desde que descolámos adormeceu como uma pedra,o que dificultava a vida sempre que eu queria sair do meu lugar.

Foi uma seca de voo até Filadelfia,adormeci um pouco mas a maior parte do tempo limitei-me a ouvir música (Social Distortion,Booka Shade,The Slackers e uma compilação feita pelo Joe de música para o Deserto) e a ler o Coração Débil de Dostoiévski,que diga-se de passagem é uma merda sobre expectativas e ansiedade de não as corresponder.

Chegado a Filadelfia depois do voo chato,deparei-me com uma realidade tão americana como os hamburguers,a paranoia da segurança e controlo policial.

Todos tem que passar no serviço de imigração e fronteiras,onde nos tiram impressões digitais e uma foto,preenchemos a famosa ficha onde nos perguntam se já fomos ou pensamos em vir a ser terroristas e um funcionário rude nos faz um interrogatório oral sobre o nosso propósito da visita,se temos dinheiro,se pensamos em trabalhar no periodo da estada,se temos familia e amigos nos states,se não achamos que 3 meses é tempo de mais para ir de férias,a morada onde vamos ficar entre outras perguntas sempre a tentar detectar na nossa cara algum nervosismo,é uma porcaria e intrusivo,só na américa lol

Depois segui para a alfandega onde me confiscaram um chouriço e uma farinheira que me tinha sido pedida pelos portugas em são francisco,era de barrancos,porco preto, malandros!

A passagem no detector de metais foi a mais cómica de sempre porque quando me apercebi só via pessoas descalças,desde executivos com pastas,miudas de salto alto,velhinhos com os netos ou gordos de 200kgs,todos se uniram naquele momento num chulé colectivo. Para a policia americana um par de sapatos pode ser uma arma de destruição massiva.

Esperava-me 6 horas de espera no aeroporto,o meu voo para São Francisco seria no final da tarde,só me restava esperar,comer e ouvir música

Levantei os primeiros Dollares,comprei comida e leitura americana e sentei-me a olhar para o sol de filadelfia,que passado tantas horas de viagem estava tão ou mais radiante do que quando parti,viajar para oeste tem destas coisas,o dia solar nunca mais acaba :)

"vi o sol nascer

na minha cidade

estava um dia lindo

acordei com facilidade

sai com uma ânsia

uma missão

perseguir o sol

não o ver tocar no chão

atravesso fusos horários

nesta águia de metal
atravesso os céus

numa parábola sem igual
com os olhos no horizonte

sei que vou ver

o sol como na minha terra

no mar a desaparecer

muda o oceano

fica a vontade

de correr atrás dele

voar na verdade

voo sem olhar para trás

voo quero sempre mais

pois a noite
só me trás saudade"

Mais 6 horas de voo até São Francisco,onde dormi o tempo todo, e finalmente me encontro com o Ric e com mais dois colegas de casa e de aventura,o Telmo e o Marcos

Uma recepção entusiastica e o meu primeiro vislumbre da America,grandes espaços,grandes carros,grandes pratadas de carne

Após 20 horas de viagem,que foi sem dúvida a mais cansativa que já fiz,conheci a nossa casa e depois de uma boa erva californiana, adormeci cansado mas feliz